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terça-feira, 17 de março de 2009

Digitalis



Em 1542 Fuchs a denominou de Digitalis devido ao aspecto de dedos de uma luva que apresenta as suas flores. O uso desta para problemas cardíacos foi descoberto pelo médico inglês William Withering, o qual ouviu falar de uma curandeira que utilizava ervas, conseguindo curar uma mulher que sofria de retenção de líquidos decorrente de uma insuficiência cardíaca congestiva. Withering não acreditava na recuperação da paciente. A fórmula da curandeira era composta por 16 ervas diferentes onde Withering identificou o Digitalis como o determinante para a cura. Durante 10 anos o médico pesquisou a dose mais apropriada pois sabia também da alta toxicidade que apresentava. Então em 1785 ele publicou um relatório sobre seus estudos que até hoje é considerado um clássico da literatura médica.
O emprego incorreto do medicamento, porém, ocasionava efeitos tóxicos que em muitas vezes eram letais para o paciente, sendo desta forma difícil quantificar a quantidade exata do tratamento. Foi em 1875 que o farmacêutico Claude A. Netivelle conseguiu isolar um dos glicosídeos cardiotônicos, a digitoxina, propiciando assim a evolução do estudo sobre a dose mais adequada.
A Farmacopéia Brasileira 3ª edição (1977) descreve os aspectos das folhas, parte utilizada bem como as diferenças das espécies Digitalis purpurea L. e Digitalis lanata Ehrh da seguinte forma:
“ A folha é oval-oblonga ou lanceolada, séssil ou atenuada num pecíolo alado e triangular. Seu comprimento, em geral, é de 15 a 35 cm por 6 a 10 cm de largura. Sua margem é grosseira e desigualmente crenada ou crenado-denteada. A face superior é verde, quase glabra ou recoberta por uma pubescência mole, finamente rugosa e proeminente entre as nervuras deprimidas. A face inferior é quase branco-tormentosa e caracterizada pela trama bem aparente das nervuras salientes e esbranquiçadas por entre a qual se observam redes mais finas. A nervura principal é fortemente desenvolvida e envia nervuras secundárias para a margem, sob ângulos muito agudos.
DIFERENÇAS MORFOLÓGICS E ANATÔMICAS ENTRE AS FOLHAS DE DIGITALIS PURPUREA E DIGITALIS LANATA

Digitalis purpurea
Margem - Crenada ou crenato-denteada.
Lâmina
Mostra fina rede de saliências na face superior, semelhantes a bolhas, e de concavidades na face inferior, correspondendo às saliências da face superior.
Pêlos
Um feltro de pêlos na face inferior e numerosos pêlos (em geral) na face superior.
Paredes das células epidérmicas
Sem poros , ou estes visíveis apenas nas células epidérmicas acima das nervuras maiores.
Pêlos tectores
Inúmeros
Pêlos glandulares
Sempre existentes, se bem em número menor do que os pêlos tectores.

Digitalis lanata
Margem
Lisa ou fracamente denteada.
Lâmina
Sem saliências e concavidades.
Paredes das células epidérmicas
De regra com poros, que dão às paredes a semelhança de um rosário.
Pêlos tectores
Muito raros.
Pêlos glandulares
Quase faltam.”

Nome Científico: Digitalis purpurea L. Sinonímia: Digitalis alba Schrank; Digitalis carnea Meigen et Weniger; Digitalis libertiana Dum.; Digitalis nevadensis Kunze; Digitalis purpurascens Lej.; Digitalis speciosa Salisb.; Digitalis thapsi Berthel. ex Nyman; Digitalis tomentosa Link et Hoffmanns.

Nome Popular: Digitalis, Dedaleira, Dedo de Dama, Erva Dedal, Luvas de Nossa Senhora, Tróculos, Troques e Abeleura, em português; Fingerhut, Fingerkraut e Schwulstkraut, na Alemanha; Digital, Calzones de Zorra, Chupamieles, Dedalera, Dedalera Encarnada, Dediles, Flor de Guante, Giloria, Guadaperra, Guante de la Virgen, Guante de Nuestra Señora, Guantelete, Guantera, Villoria e Viluria, em espanhol; Berlue, Clochette, Dé de Bergère, Digitale, Digitale Pourpreé, Doigtier, Gant Debergère, Gant de Bebergère, Gant de Notre Dame, Gantelèe, Gantlet, Grande Digitale, Pavée, Pétereaux, Péterelle, Pétrole e Queue de Loup, na França; Vingershoedkruid, na Holanda; Common Fox Glove, Fairy Fingers, Fairy’s Gloves, Fox Glove, Purple Fox Glove e Purple Glove, em inglês; Digitale, Digitella, Ditale, Della Madonna, Erba Aralda, Erba Nalda, Fior Gentile, Guancelli, Guanto Della Madonna, na Itália.

Denominação Homeopática: DIGITALIS.

Família Botânica: Scrophulariaceae.

Parte Utilizada: Folha.

Princípios Ativos: Glicosídeos Cardiotônicos (0,30%): digitoxigenina (de onde deriva a digitoxina); gitoxigenina; gitaloxigenina (de onde deriva dentre outros a gitoxina); Flavonóides; Saponinas.

Indicações e Ação Farmacológica: As folhas de Digitalis são empregadas no tratamento da insuficiência cardíaca congestiva. Em Homeopatia é grande remédio da assistolia, das moléstias cardíacas, muita falta de ar, pulso fraco, pés e pernas fracas ou então na fibrilação auricular.
A Digital (nome que engloba os glicosídeos cardiotônicos presentes tanto na Digitalis purpurea quanto na Digitalis lanata) é empregada principalmente no tratamento da insuficiência cardíaca congestiva e para diminuir a freqüência ventricular na presença de fibrilação auricular.
Sua ação está baseada na sua capacidade de aumentar a força de contração do miocárdio (inotropismo positivo) o qual se traduz num aumento do volume, diminuição do tamanho cardíaco, descenso da pressão venosa, diminuição do consumo de oxigênio e diurese. Devido a isso descende o volume sangüíneo e edema.
A ação inotrópica positiva, benéfica na insuficiência cardíaca congestiva, ocorre independentemente do ritmo cardíaco predominante, sendo em todos os casos dose-dependente. O efeito é similar tanto sobre o músculo auricular como sobre o ventricular. A ação inotrópica está vinculada a um efeito inibitório da enzima ATP-ase Na+/K+ dependente presente na membrana celular. Esta enzima é responsável pelo intercâmbio de sódio e potássio através da membrana da célula muscular cardíaca. A inibição permite uma acumulação de sódio intracelular e uma ligeira depleção de potássio, conjuntamente a um incremento secundário do cálcio intracelular, o qual eleva a força de contração do coração.
A Digitalis incrementa a atividade vagal central, tendendo desta forma a diminuir o tônus e a excitabilidade cardíaca, contrapondo-se com o efeito estimulante da ação periférica. Assim, é facilitada a transmissão muscarínica no coração, o qual permite diminuir a freqüência cardíaca (efeito cronotropo negativo), atrasando a condução auriculoventricular e prolongar o período refratário do nódulo AV e do feixe de His. Este último efeito é útil na fibrilação auricular.
Por ser cardioestimulante, aumentando o tônus arteriolar e venoso, a Digitalis tende a melhorar a diurese, determinada pela ação conjunta dos cardiotônicos, flavonóides e saponinas, reduzindo os edemas e contribuindo para a compensação de defeitos mecânicos ou lesões estruturais no miocárdio.

Toxicidade/Contra-indicações: A digoxina é de eliminação renal, enquanto que a digitoxina é eliminada por via hepática (por isso deve-se ter cuidado especial nas doses administradas a pacientes com insuficiência renal ou hepática): se a eliminação é deficiente, aparecem sintomas tóxicos por acumulação, tais como gastroenterites, cefaléia, sonolência, dores nas extremidades do corpo, erupções dérmicas, eosinofilia, ginecomastia, confusão e delírio. A causa da intoxicação pode ser dada pela ingestão de doses excessivas; por variações na absorção; pela diminuição de potássio seguida de administração de laxantes antraquinônicos ou diuréticos eliminadores de potássio, como os de alça; por uma hipocalemia; pela elevação da calcemia; por uma enfermidade na paratireóide ou por um hipertireoidismo. Devido a esses fatores é importantíssimo saber o estado renal, hepático e tireóideo, além do conhecimento da concentração de eletrólitos do paciente antes de administrar o Digitalis, pois esta é uma droga de elevada toxicidade e de estreita margem terapêutica.
A droga total, devido ao sinergismo e influência com as saponinas presentes as quais potencializam a absorção, é mais tóxica que o conjunto de cardiotônicos isolados. Trata-se a intoxicação por Digitalis promovendo-se uma lavagem gástrica, indução ao vômito, aumentar potássio e adiministração de antiarrítmicos como Lidocaína ou a Fenitoína.
A dose letal para adultos é calculada em 10 gramas da planta seca.

Dosagem e Modo de Usar:
• O nível terapêutico da digoxina no sangue é de 1-2 nanograma/ml.
• Consultar sempre farmacopéias e formulários;
• O uso de formas farmacêuticas contendo Digitalis sempre devem ser processados sob orientação médica.

Referências Bibliográficas:

• ALONSO, J. R. Tratado de Fitomedicina. 1ª edição. Isis Ediciones. Buenos
Aires. 1998 ( o qual cita as referências mostradas nos itens Indicações e Ações
Farmacológicas/ Toxicidade e Contra-indicações).

• PR VADEMECUM DE PRECRIPCIÓN DE PLANTAS MEDICINALES. 3ª
edição. 1998.

• SOARES, A. D. Dicionário de Medicamentos Homeopáticos. 1ª edição. Santos
Livraria Editora. 2000.

• FARMACOPÉIA BRASILEIRA. 3ª edição. 1977.

• CAIRO, N. Guia de Medicina Homeopática. 1983.

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