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terça-feira, 10 de março de 2009

Ginkgo


A árvore cientificamente denominada Ginkgo biloba é considerada a árvore da vida no Oriente, passando a ser venerada por um grande número de japoneses, principalmente após a Segunda Grande Guerra, no Japão: mesmo num ambiente devastador como o encontrado em Hiroshima, após a explosão da Bomba Atômica, uma árvore de Ginkgo continuava em pé, inexplicavelmente, viva. Já há mais de dez séculos, os chineses já eram conhecedores de suas propriedades medicinais. Hoje, cada vez mais se dedica tempo e recursos ao estudo de suas propriedades terapêuticas, como o combate a moléstias ligadas ao envelhecimento e ao mau funcionamento vascular e do metabolismo celular. O livro mais antigo de medicina que se conhece (o Pents, na China) o imperador Shen Nun já fazia referência ao Ginkgo “... as folhas desta árvore são excelentes para o coração e para os pulmões.”
É considerada – às vésperas do Século XXI –, o único “fóssil vivo” comprovadamente existente até hoje na Terra. A árvore surgiu no chamado Período Parmiano, há 250 milhões de anos, quando os mamíferos e aves ainda não existiam. São conhecidas 50 variedades da planta, muitas das quais deixaram rastros de sua existência no Período Mesozóico (ou Jurássico), quando também os dinossauros andavam pela Terra. O nome botânico, Ginkgo biloba, deriva de bi (do latim, duplo) loba (folha), sendo explicado por seu formato característico e inconfundível, enquanto Ginkgo significa, para os japoneses, damasco prateado.
Botanicamente, o Ginkgo é caracterizado por ser uma árvore de 20-25 metro de altura, de folhas alternas, pecioladas, caducas, ficando amarelas no outono e verdes no restante das estações; ramos verticilados; flores dióicas, as masculinas reunidas em cones estipitados, as femininas solitárias ou geminadas, na ponta de um pedicelo; fruto drupáceo com semente óssea.

Nome Científico: Ginkgo biloba L. Sinonímia: Salisburia adiantifolia Sm.; Salisburia biloba Hoffm., Salisburia ginko Smith.; Ginkgo macrophylla Hort. ex C.Koch; Pterophyllus salisburiensis J.Nelson; Salisburia macrophylla Reyn.

Nome Popular: Ginkgo, Ginkgo Biloba e Nogueira-do-Japão, no Brasil; Arbol de Oro, na Argentina; Arbre Aux Quarante Écus, na França; Scho, no Japão; Pakoo, na China; Maidenhair-Tree, em inglês; Ginkgo, na Espanha.

Denominação Homeopática: GINKGO BILOBA.

Família Botânica: Ginkgoaceae.

Parte Utilizada: As folhas.

Princípios Ativos: Flavonóides: kaempferol, quercetina, derivados do epicatecol, rutosídeos, isorhamnetina, cumaril glicorhamnosídeo I e II; Biflavonas: ginkgetina, isoginkgetina, sciadopitisina e bilobetina; Terpenos: gikgolídeos: A, B, C, J e M (diterpenos) e bilobalídeos (sesquiterpenos); Ácido Procatéquico; Ácido p-hidroxi-benzóico; Ácido Vainilílico; Leucoantocianidinas.

Indicações e Ação Farmacológica: O Ginkgo é indicado nas varizes, hemorróidas, insuficiência circulatória cerebral crônica, cefaléias vasculares, insuficiência vertebro-basilar, perda de memória, redução do rendimento intelectual, vertigens, fragilidade capilar, flebites, tromboflebites, hipertensão arterial, na prevenção da arteriosclerose e do tromboembolismo, dentre outras aplicações.
As principais ações terapêuticas desta espécie estão centradas em três aspectos: atividade circulatória, atividade antiagregante e atividade antioxidante. Cabe assinalar que os ginkgolídeos presentes nas folhas desta arvore não se encontram em nenhuma outra espécie vegetal, diferenciando-se dos componentes de outras espécies somente pelo número e posição dos grupos hidroxila.
Os flavonóides atuam como elementos depuradores dos radicais livres, enquanto que os terpenos (em especial o ginkgolídeo B) inibem o PAF (fator de agregação plaquetária) (Braquet L., 1982). Tanto o PAF como os radicais livres tem a capacidade de poder desgastar as membranas vasculares determinando assim um aumento da permeabilidade das mesmas e conseguinte alteração do fluxo cerebral, do metabolismo neuronal e da atividade dos neurotransmissores.
A ação antiagregante plaquetária exercida pelos ginkgolídeos seria seletiva sobre o PAF e não sobre o ácido araquidônico. O mecanismo de ação dos ginkgolídeos se estabelece através da inibição competitiva ao nível dos receptores plaquetários da membrana, destacando-se como o mais efetivo o ginkgolídeo B (De Souza N. et al., 1983; Braquet P. et al.,1991).
O extrato de G. biloba em concentrações de 100 g/ml diminuiu a concentração aórtica induzida pela noradrenalina ao atura sobre receptores a1-adrenérgicos, atividade antagonizada pelo a-bloqueador fentolamina.
Em diversas áreas podemos apontar as ações do Ginkgo:
Atividade sobre o Metabolismo Cerebral: Após vários ensaios foi demonstrado que o G.
biloba aumenta a captação de glicose em animais mantidos tanto em condições normais de

fluxo cerebral como em hipóxia. Porém, não foram evidenciadas mudanças significativas no sentido de um aumento de fluxo circulatório cerebral em ambas as circunstâncias, o que demonstra a preponderância do mecanismo metabólico sobre o hemorreológico (Lê Poncin Lafitte M. et al., 1982). Por outro lado, o aumento do tônus vascular facilita a eliminação de produtos de resíduo metabólico com o CO2 e lactatos.
Com relação a ação sobre os neurotransmissores, há m aumento da atividade da norepinefrina após a administração de extratos de G. biloba. No mais, pode-se constatar um aumento na capacidade de ligação dos receptores muscarínicos com a acetilcolina (Taylor J.,1996).

Atividade sobre a Memória: As conclusões que se tem chegado a respeito da ação do Ginkgo sobre a atividade da memória se baseiam em testes psicométricos e provas eletroencefalográficas realizadas majoritariamente em indivíduos idosos. Um estudo duplo-cego realizado no Departamento de Psicologia da Universidade de Leeds na Inglaterra, sobre oito mulheres sãs que tomaram doses progressivas G. biloba (120, 240 e 600 mg), revelaram uma maior capacidade de resposta em provas de exercício de amnésia, porém após algumas horas desta melhora ocorria uma diminuição desta atividade até chegar à capacidade normal de início (Hindmarch I., 1986).
Além disso, os pesquisadores da Universidade de Leeds puderam demonstrar que não havia somente uma via de neurotransmissores, mas sim duas: as vias catecolaminérgicas e serotoninérgicas as quais teriam uma relação com o humor, enquanto que a via colinérgica estaria mais relacionada com a memória. Devido ao Ginkgo biloba atuar em ambas as vias, os pacientes depressivos que possuem problemas de memória, obtiveram meçlhoras com a administração desta espécie (Hindmarch I., 1986).

Atividade sobre a Demência Senil-Mal de Alzheimer: Sabe-se que o processo de envelhecimento trás como um infortúnio em uma grande parte dos casos um déficit global das funções do cérebro. Podemos classificar alguns destes problemas da seguinte maneira:
Degeneração do Córtex:
- Demência Senil (26%);
- Mal de Alzheimer (18%),
Lesões Vasculares:
- Aterosclerose (22%)
- Infartos Múltiplos (17%)
- Associação de ambos (17%)
Assim devemos levar em conta todos os fatores, já que é difícil muitas vezes poder fazer um correto diagnóstico diferencial. Então o Ginkgo biloba pode ter algum tipo de ação no grupo b atuando sobre as funções intelectuais danificadas.
Para avaliar estes resultados, fez-se uma bateria de testes (Crichton, Stockton, Plutchik, Sandoz, etc) que avaliam o comportamento do paciente durante as atividades diárias (atitudes, estado de humor, reações gerais) e classificando os resultados em pontuação. As provas realizadas nos pacientes do grupo b) tratados com Ginkgo biloba demonstraram melhoras importantes na maioria dos casos, não sendo pronunciado com os indivíduos do grupo a) (Vorberg G. et al.1985; Stalliecken J., 1988).
De acordo com este estudo, pensou-se que o Ginkgo não seria útil para a afecções do grupo a). Assim, alguns estudos realizados nos últimos anos vão contra a afirmação anterior.
Um ensaio realizado na Clínica Neuropsiquiátrica de Coppenbrügge, na Alemanha, sobre 40 pacientes com Mal de Alzheimer tratados com uma dose de 80 mg diários de extratos de Ginkgo biloba (em comparação com o grupo placebo) evidenciaram algumas melhoras na área da atenção, memória e psicomotricidade logo após um mês de tratamento, o qual abre uma perspectiva para o tratamento em longo prazo na esperança de barrar a evolução progressiva desta enfermidade (Hofferberth B., 1994).

Atividade sobre a Visão: Os modernos métodos de avaliação do campo visual (perimetria quantitativa computadorizada permitem definir com maior precisão os dados obtidos em relação com os métodos usuais. As experiências realizadas com esta metodologia em pacientes tratados com doses usuais de Ginkgo biloba determinaram em outro ensaio que sobre um total de 16 pacientes avaliados, 75% experimentaram melhorias na capacidade de leitura, na visão de cores e na memória visual. Cabe esclarecer em todos os casos, os pacientes que apresentavem nenhuma outra patologia oftálmica concomitante tais como retinopatia diabética ou hipertensiva, glaucoma, etc. (Raabe A. et al., 1986).

Atividade sobre a Audição: Estudos realizados em três centros médicos na França sobre um total de 70 pacientes afetados com síndrome vertiginosa de recente começo e origem indeterminada, mostraram no intervalo de três meses de tratamento com Ginkgo biloba uma melhoria parcial no estado de equilíbrio. Paralelamente, estudos duplo-cego controlados com placebo revelaram melhorias sintomáticas entre 44 e 85% dos pacientes avaliados que apresentavam vertigens e desmaios, os quais foram tratados com Ginkgo biloba durante 1-3 meses (Haguenauer J., 1986).

Atividade Vascular Periférica: Nos casos de arterites dos membros inferiores (grau II), o tratamento com extrato de G. biloba resultou em 100% eficaz. Já nos casos de arterites de grau III o resultado foi de 0% e na Enfermidade de Rayanaud somente 33% de resposta satisfatória (Frileux C. E Cope R., 1975).
O Ginkgo é muito utilizado na medicina estética através da Mesoterapia. Para o tratamento de arterites de membros inferiores geralmente se utiliza preparações a base de Ginkgo biloba, Ruscus acuelatus e Aesculus hippocastanum.

Atividade sobre o Trato Respiratório: Em modelos animais, os ginkgolídeos têm demonstrado exercer proteção contra atividade antigênica de diferentes agentes broncocontritores, tornando normais os valores no sangue de pH, PO2 e tromboxano B2 (Hosford D. et al., 1988).

Atividade Imunológica e Antinfecciosa: Um estudo recente feito na Escola Médica da Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos, sugere que o extrato de Ginkgo altamente purificado, evita a rejeição de órgãos transplantados (experimentalmente) de maneira menos tóxica que a ciclosporina. Nesta experiência foi feita pelos professores Peter Ramwell e Maria Foegh sobre vários transplantes de coração feitos em animais de laboratório, observando-se como único efeito colateral a atividade anticoagulante característica de sua ação terapêutica. O mecanismo de ação está baseado na ação inibitória sobre o Fator de Agregação Plaquetária. O ginkgolídeo B demonstrou inibir a ação supressora do FAP sobre a proliferação de linfócitos T e sobre a produção de citocinas (Newall C. et al., 1996).
Os extratos aquosos e alcoólicos do Ginkgo inibem in vitro a ação colagenolítica de Porphyromonas gingivalis e sua atividade citotóxica sobre fibroblastos das gengivas de maneira superior ao cloridrato de tetraciclina (Osawa K. et al., 1991).

Atividade Sexual e Ginecológica: De acordo com uma publicação The Journal of Urology um estudo selecionou 60 pacientes com impotência sexual cuja totalidade de injeções locais com papaverina não havia dado resultados satisfatórios. Com um ano de tratamento oral e administrando 50 mg de Ginkgo por dia, 50% pode recuperar a ereção peniana totalmente. Um valor de 20% recuperou a ereção com a combinação de Ginkgo e papaverina e finalmente 30% restante obtiveram resultados parciais ou nulos.
Já na área da ginecologia, observou-se melhoras em pacientes que sofrem de síndrome pré-menstrual, tomando extratos estandarizados de G. biloba (Tamborini A. e Taurelle R., 1993).

Toxicidade/Contra-indicações: Ocasionalmente podem ocorrer distúrbios gastrointestinais (náuseas, dispepsia), palpitações, queda da pressão arterial, cefaléia e reações cutâneas. Embora não seja freqüente, pode ocorrer cefaléia, sonolência, mal estar epigástrico, geralmente aparecendo ao início do tratamento e cessando espontaneamente com a sua continuidade, não sendo necessário interromper a medicação em nenhum caso ou adotar medidas corretivas de qualquer natureza.
É contra-indicada a associação com medicamentos anti-coagulantes ou em casos de hipersensibilidade ao fármaco. Recomenda-se evitar o uso durante o primeiro trimestre de gestação.

Dosagem e Modo de Usar:
Infusão: Uma colher de sobremesa por xícara, duas a três xícaras ao dia, antes das refeições;
Extrato Seco (5:1): 0,3 a 1 g/dia;
Extrato Fluido (1:1): 2 ml., uma ou duas vezes ao dia.
Extrato Glicólico: 2 a 5%, em cremes, shampoos e sabonetes.

Referências Bibliográficas:
PR VADEMECUM DE PRECRIPCIÓN DE PLANTAS MEDICINALES. 3ª
edição. 1998.

PDR FOR HERBAL MEDICINES. 1ª edição. 1998.

TESKE, M.; TRENTINI, A. M. Herbarium Compêndio de Fitoterapia.
Herbarium. Curitiba. 1994.

Revista Racine. Maio de 1998.

SIMÕES, C. M. O. Farmacognosia da Planta ao Medicamento. 1ª edição.
1999.

SOARES, A. D. Dicionário de Medicamentos Homeopáticos. 1ª edição. Santos
Livraria Editora. 2000.

ALONSO, J. R. Tratado de Fitomedicina. 1ª edição. Isis Ediciones. Buenos Aires.
1998. (obra que cita as referências mostradas nos itens Indicações e Ações
Farmacológicas/ Toxicidade e Contra-indicações).

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