As primeiras citações do uso do Cravo da Índia surgiram nos escritos chineses, onde se fazia menção ao costume que existia durante a dinastia Han (266 a.C. - 220 d.C.) de mastigar Cravo da Índia cada vez que uma pessoa deveria falar com o imperador, de forma a não apresentar mau hálito. Também fazia parte de fórmulas para embalsamar cadáveres. No século IV já era utilizado em toda a Europa.
É originário do sudeste asiático, em especial da Indonésia, sendo atualmente cultivado em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil.
O Craveiro da Índia é uma árvore alta, que chega a medir até 15 metros de altura, mas quando cultivada não ultrapassa 3-4 metros de altura. É caracterizada por apresentar folhas persistentes, simples, quase conatas, opostas, longo-pecioladas (pecíolo articulado, canaliculado e intumescido na parte inferior), oblongas, de 10 centímetros de comprimento e 5 centímetros de largura, inteiras, coriáceas, punctuadas, nervadas luzidias e glabras. As flores são hermafroditas, pequenas, aromáticas, róseas ou avermelhadas, dispostas em corimbos terminais. O fruto é uma drupa seca, ovóide, coroada pelas divisões do cálice. O Cravo da Índia é constituído pelo ovário e pelo cálice das flores, sendo caracterizado pela Pharmacopeia dos Estados Unidos do Brasil 1ª Edição (1926) da seguinte forma: “O cravo da Índia é de cor pardo-negra, mede de 10 a 17 mm de comprimento por 3 a 4 mm de largura e é formado por um ovário ínfero, arredondado-quadrangular, levemente dilatado na parte superior, onde se encontram as duas lojas ovarianas multiovuladas; é coroado por quatro sépalas subovais ou triangulares, espessas, levemente divergentes, côncavas na parte superior, as quais circundam uma pequena massa globulosa, de 5 a 6 mm de diâmetro, facilmente separável, formada por quatro pétalas estreitamente imbricadas, arredondadas, de cor mais clara e cheias de pontoações translúcidas, as quais recobrem numerosos estames recurvados para dentro e inseridos sobre o disco de quatro faces, deprimido no centro, de onde se eleva um estilete curto e subulado.
O cravo da Índia possui cheiro fortemente aromático, ardente e característico.”
Nome Científico: Caryophullus aromaticus L. Sinonímia: Syzygium aromaticum (L.) Merr. et Perry; Eugenia aromatica (L.) Baill.; Eugenia caryophyllata Thunb.; Eugenia caryophyllus (Spreng.) Bull. et Harr. Caryophyllus hortensis Noronha.
Nome Popular: Cravo da Índia, Craveiro da Índia, Cravinho e Cravo de Cabecinha, em português; Gewürznelkenbaum, na Alemanha; Árbol del Clavo, Clavo de Olor, Clavero e Clavillo, em espanhol; Bois à Clous e Girofeé, na França; Clove Tree e Clove, em inglês; Canella Garofanata, Clavinto, Clavo, Garòfano e Pepe Ciressino, na Itália.
Denominação Homeopática: CARYOPHYLLUS AROMATICUS ou OLEUM CARYOPHYLLUS.
Família Botânica: Myrtaceae.
Parte Utilizada: Botão floral.
Princípios Ativos: Óleo Essencial (15-20%): composto principalmente por eugenol (60-80%); acetato de eugenol; cavicol; 4-alil-fenol; ésteres ; sesquiterpenos, tais como a e b-humuleno, calacoreno, calameneno, a-muruleno e a-amorfeno; óxido de cariofileno; epóxido de humuleno; salicilato de metila; b-amirina; Fitosteróis: b-sitosterol, estigmasterol e campestrol; Ácido Protocatéquico; Ácido Gálico; Ácido Cratególico; Ácido Oleânico; Ácido 18-dehidro-ursólico; Flavonóides: derivados do quercetol e kempferol; Taninos Elágicos (10-13%).
Indicações e Ações Farmacológicas: O Cravo da Índia é indicado na inapetência, nas dispepsias hiposecretoras, na flatulência, na diarréia e bronquite. Topicamente é aplicado nas dermatomicoses, limpeza de feridas e ulcerações dérmicas, estomatite, parodontopatias, odontalgias, amidalites e otites.
Em Perfumaria, os perfumes adotam notas temperadas.
O alto conteúdo em eugenol proporciona propriedades anti-séptica, bactericida, fungicida, parasiticida e antimicótica (Abel Nasser M. et al., 1983). Extratos de Cravo da Índia têm demonstrado in vitro atividade inibitória frente a cepas de Staphylococccus aureus resistentes a penicilina G (Pérez C. et al., 1994), Escherichia coli e Candida albicans e C. tropicalis (Safiyev S. et al., 1997).
Quanto aos fungos que comumente infectam a pele humana, tais como o Epidermophyton floccosum, o Microsporum gypseum, o Tricophyton mentagraphytes e o T. rubrum, extratos de Cravo da Índia têm exibido uma significativa atividade antimicótica unicamente frente aos dois primeiros, sendo de menor eficácia que os extratos de Cálamo Aromático (Acorus calamus L.), o qual foi efetivo contra as quatro espécies (Jatisatiern C. e Jatisatiern A.,1997). Sob a forma de tintura, o Cravo da Índia é eficaz no combate ao pé de atleta (Leung A., 1980).
Em Odontologia, suas propriedades anti-sépticas e bactericidas permitem que se produza numerosos preparados e enxágües bucais. Também foi comprovado eficácia contra nematodos. Além disso, exibe efeitos antiagregantes plaquetários, interferindo na síntese de prostaglandinas. Em coelhos se pode observar atividade antiagregante similar à oferecida pela indometacina (Laekeman G. et al., 1990; Tisserand R. e Balacs T., 1995).
O óleo essencial apresenta ação antiespasmódica, antiinflamatória e antihistamínica, a partir fundamentamente da ação do salicilato de metila e acetato de eugenol (Peris J. et al., 1995). O eugenol tem demonstrado ser muito ativo como inibidor da ciclooxigenase, no entanto o acetato de eugenol possui um mecanismo de ação similar ao ácido salicílico, inibindo de forma irreversível a enzima por transferência do grupo acetila (Ríos Cañavate J., 1995). Tanto o eugenol como o acetato de eugenol e o metil-eugenol têm sido reportados como substâncias que potencializam a atividade da tripsina através de estudos feitos em animais (Leung A., 1980).
Atividades depressora do SNC e hipoglicemiante também foram atribuídas ao Cravo da Índia, especialmente a espécie hindu Syzygium cuminii L. (Chakraborty D. et al., 1986).
Toxicidade/Contra-indicações: O óleo essencial do Cravo da Índia tem demonstrado ser neurotóxico e irritante das mucosas, especialmente quando administrado em doses inadequadas. A aplicação sobre as gengivas inflamadas pode causar danos (Mitcehll J. e Rook A., 1979).
A DL50 do óleo essencial em ratos por via oral alcança a 2,65 g/kg (Duke J., 1985). Em humanos, a dose diária permitida para o eugenol é estimada em 2,5 mg/kg (Martindale, 1989).
É contra-indicado o uso interno durante a gravidez, lactação, para crianças menores de seis anos, pacientes com gastrite, úlceras gastroduodenais, síndrome do cólon irritável, colite ulcerosa, doença de Crohn, hepatopatias, epilepsia, síndrome de Parkinson ou outras enfermidades neurológicas. É contra-indicado o uso tópico sobre as zonas de pele alterada, nem para pessoas com alergias respiratórias ou hipersensibilidade por óleo essencial.
Dosagem e Modo de Usar:
Uso Interno:
- Infusão: 10 g/l, infundir durante 15 minutos. Tomar três xícaras ao dia, antes e depois das refeições;
- Pó Encapsulado: 200-500 mg/dia em duas ou três doses;
- Extrato Fluido (1:1): 20-30 gotas, uma a três vezes ao dia;
- Tintura (1:5): 30-50 gotas, uma a três vezes ao dia
Uso Externo:
- Infusão: a 2%, aplicar sob a forma de gargarejos e colutórios;
- Óleo Essencial Puro ou em Solução Alcoólica: Aplicar com um algodão sobre as áreas afetadas, 2-3 vezes ao dia.
Referências Bibliográficas:
PR VADEMECUM DE PRECRIPCIÓN DE PLANTAS MEDICINALES. 3ª
edição. 1998.
CORRÊA, M. P. Dicionário das Plantas Úteis do Brasil. IBDF. 1984
ALONSO, J. R. Tratado de Fitomedicina. 1ª edição. Isis Ediciones. Buenos
Aires. 1998 ( o qual cita as referências mostradas nos itens Indicações e Ações
Farmacológicas/ Toxicidade e Contra-indicações).
ALBINO, R. Pharmacopeia dos Estados Unidos do Brasil. 1ª edição. 1926.
SOARES, A. D. Dicionário de Medicamentos Homeopáticos. 1ª edição. Santos
Livraria Editora. 2000.
NEWALL, C. A.; ANDERSON, L. A.; PHILLIPSON, J. D. Herbal Medicines - A
guide for health-care professionals, 1ª edição, Londres, 1996.
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